Uma época triunfante de Rute Carvalho: "Evoluí em todos os aspetos"

Rute Cardoso Carvalho não é um nome muito conhecido, nem mesmo para os mais seguidores do futsal nacional que não sejam da sua zona de ação, mas teve uma temporada 2017/18 com muito sucesso.
Aos 29 anos, Rute fez parte de 3 equipas técnicas durante a temporada, em duas delas como treinadora principal, sendo que duas delas foram campeãs distritais, e a outra conseguiu a tão desejada manutenção no nacional, mas já lá vamos, quem é afinal Rute Carvalho?
Psicóloga do desporto de profissão, com licenciatura em psicologia e mestrado na mesma área, mas com especialização na área desportiva, ambos tirados na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Rute até jogou a nível federado por 8 temporadas, passando por Drible – Escola FF, Académico Alves Roçadas, AF Tresminas e CB VP Aguiar, mas terminou o seu percurso como jogadora muito prematuramente, devido a constantes lesões no joelho e outros problemas físicos que lhe apareciam.
Ainda assim, este não foi de todo um adeus a esta modalidade, uma vez que em 2014/15, começou a exercer as suas funções de psicóloga na Escolinha de Futsal Johnson Januário. A meio dessa temporada, o abandono do treinador de Infantis levou Rute a assumir o cargo, ela que anteriormente teve uma pequena experiência a liderar uma equipa universitária, mas teve ali na Escolinha de Futsal o verdadeiro pontapé de saída no que ao treino da modalidade diz respeito.
Nesse mesmo ano começou o Curso de Nivel I, e foi-se mantendo no clube até aos dias de hoje, tendo esta temporada alcançado um feito único de chegar à Segunda Fase da Taça Nacional com a equipa de Iniciados.
Na temporada passada, assumiu também um papel na equipa técnica do Macedense, funções que manteve esta temporada até ao final da fase regular do campeonato, tendo saído na altura para assumir os comandos do GD Chaves, clube que ajudou a garantir a manutenção no nacional.
Recentemente Rute terminou o Grau II – UEFA B de treinadora, preparando-se assim para voos mais altos.
Com toda a apresentação feita, é agora altura de vos deixar-mos com as palavras de Rute Carvalho (RC), após uma temp.orada que, embora trabalhosa, terminou sempre da melhor maneira para a jovem treinadora
ZT - Começou a temporada na equipa técnica do Macedense que acabou por conquistar tudo o que tinha para conquistar. Onde acha que contribuiu para este sucesso?
RC - A minha permanência no Macedense já vinha da época transata, quando estávamos a competir na segunda divisão nacional. Tentamos dar continuidade ao trabalho que havia sido feito com o objetivo claro de voltar a subir de divisão. Esta época a minha saída coincidiu exatamente com o final da fase regular e, a partir daí, o meu contributo foi muito residual, uma vez que não pude mais participar nos treinos e nos jogos. Portanto, neste caso, e apesar de sentir o sucesso como meu também, sei que não fui das maiores responsáveis. Aliás, acabei por não estar em nenhum dos momentos de conquista dos troféus.
ZT - Esta temporada foi também treinadora dos iniciados da Escola de Futsal Johnson Januário, numa época plena de sucessos, onde atingiram inesperadamente a 2ª Fase da Taça Nacional. Qual foi o segredo para este sucesso?
RC - Também aqui o trabalho que se realizou já vinha de algumas épocas atrás. Nada aconteceu por acaso e, mesmo sendo um sucesso inesperado, estávamos preparados para tal; aliás, foi um dos objetivos traçados para a equipa no início da época. Julgo que não há grandes segredos aqui, além do trabalho, da paixão e da dedicação que se colocou em cada tarefa. Posso adiantar que a metodologia de trabalho foi de um nível quase profissional, e muita coisa acontecia nos bastidores dos jogos e dos treinos; os jogadores, apesar de jovens de tenra idade, abraçaram os objetivos e deram tudo de si para que fossem possíveis de concretizar, com uma dedicação e disponibilidade indescritíveis. A par da grande dedicação julgo que foi a humildade e o reconhecimento de limitações que nos possibilitou ir mais longe, pois sabíamos que tínhamos que trabalhar mais do que a grande parte das equipas, uma vez que não tínhamos os mesmos recursos; talvez por isso o sucesso se classifique como inesperado, mas para nós foi um grande móbil.
Resumindo em poucas palavras: paixão, dedicação, humildade e trabalho.
ZT - Chegou ainda a meio da temporada ao comando da equipa feminina do GD Chaves, onde atingiu o objetivo da manutenção, vencendo ainda a respetiva fase de manutenção. Quais os principais problemas que encontrou neste desafio?
RC - Cheguei ao GD Chaves numa fase muito sensível da competição, onde qualquer deslize podia ser fatal para a consecução do objetivo da manutenção. Encontrei um grupo um pouco melindrado e com algumas limitações. Tentei uma abordagem pouco “agressiva”, isto é, tentei mudar o menos possível as suas rotinas, mas depois do primeiro jogo achei por bem fazer algumas modificações superficiais, pois só assim me parecia possível conseguir a manutenção. Mais do que problemas encontrei soluções, pois as jogadoras foram incansáveis para a aplicação das ideias que eu quis implementar.
Além da questão interna, também me senti um pouco deslocada e fora da minha zona de conforto, pois nunca tinha trabalhado com equipas femininas e o meu conhecimento do campeonato nacional era apenas enquanto adepta. Tive que me desdobrar em esforços para tentar conhecer os adversários e para descortinar algumas características mais peculiares da competição. Foi tudo em contrarrelógio, mas foi muito desafiador.
ZT - Uma temporada cheia de sucessos, quem foram para si os principais responsáveis, tanto n0a época atual como na sua carreira num todo, para estes sucessos?
RC - Prefiro não fazer nomeações individuais, para não correr o risco de me esquecer de alguém importante.
Nesta época os mais importantes foram, sem dúvida, os jogadores e as jogadoras. Sem eles e sem a sua capacidade de trabalho jamais poderia ter tido sucesso.
Ao longo da minha curta carreira há várias pessoas que têm sido essenciais. Todos os treinadores com quem já trabalhei, alguns dos meus colegas e formadores dos cursos de treinadores, assim como alguns dirigentes (desde logo aqueles que me dão as oportunidades e condições para trabalhar). Considero todos aqueles que acreditaram em mim e que toleraram os meus erros, naturais no processo de aprendizagem, essenciais para ser aquilo que sou hoje; todavia, são também muito impulsionadores para eu querer ultrapassar os meus limites e me superar aqueles que não acreditam nas minhas capacidades e que duvidam, pois motivam-me a mostrar-lhes que estão errados.
ZT - Este sucesso despertou cobiça nos seus serviços para a próxima temporada? Tem algo já definido que possa avançar?
RC - As únicas propostas que recebi até ao momento são de continuidade nos projetos nos quais estava inserida.
ZT - Quais as capacidades, como treinadora e como pessoa, em que pensa que mais evoluiu esta temporada?
RC - Evoluí em todos os aspetos. A nível pessoal julgo que estou mais tolerante e confiante; a nível do treino sinto-me muito mais capaz de dar resposta a diversos problemas, desde logo por ter tido a oportunidade de trabalhar e competir em contextos totalmente distintos e diferentes daqueles nos quais já tinha experiência. Sinto-me mais completa, de uma forma geral. Ainda com imenso para aprender e para evoluir, mas sinto que estou mais preparada para qualquer situação, para vencer ou para perder, e tenho recursos emocionais e intelectuais que certamente não tinha no início desta época.
ZT - Está agora a terminar o Nivel II. Espera que esse Nivel lhe abra outras portas?
RC - O maior motivo para eu fazer o segundo nível é por uma questão de realização pessoal; faz parte de mim querer evoluir constantemente, e pretendo seguir até ao nível III. Porém, sei que me pode abrir algumas portas, nomeadamente em competições que exigem este grau de habilitações para poder desempenhar funções. De todos os contextos só me falta ter a experiência de ser treinadora principal de um escalão sénior masculino, e possivelmente será mais fácil de o conseguir sendo detentora do título UEFA B. Mas como referi antes, não foi esse o principal motivo, neste momento só quero terminar este curso e continuar a aprender e a evoluir.
Foi sem duvida uma época de muito sucesso de Rute que termina ainda com a conclusão do Nivel II. Tens alguma mensagem para deixar a Rute? Usa os comentários para o fazer.