Kairat Almaty elimina Sporting Anderlecht. Identidade, pulso firme e um capitão que decidiu tudo
O Kairat voltou a mostrar porque continua a ser uma das equipas mais reconhecíveis da Europa: identidade vincada, agressividade controlada, uma matriz competitiva que não vacila nos momentos de maior turbulência. Num jogo que começou frenético, ganhou contornos emocionais e acabou transformado numa demonstração de pulso forte, o conjunto do Cazaquistão venceu por 5–3 e garantiu a passagem com autoridade. E fá-lo com o selo do costume: pressão em zonas altas, duelos ganhados quando contam e uma leitura superior dos momentos cinzentos do jogo.
A entrada foi de quem não vem para gerir: aos 6’30’’, Rashit desbloqueou o marcador após assistência rápida de Zanotto, num movimento que simbolizou tudo aquilo que a equipa procura — agressividade na bola parada, ataque ao primeiro poste e presença física no coração da área. Mas o jogo nunca foi apenas explosão: foi controlo emocional. Prova disso é que o Anderlecht, mesmo com personalidade, não encontrou conforto. E quando tentou reagir, o Kairat respondeu com assinatura de capitão: aos 22’10’’, Orazov apareceu com o seu primeiro golo, um remate que nasce de recuperação alta, circulação simples e ocupação perfeita do espaço livre — a identidade do Kairat em três toques.
O segundo momento-chave não se fez esperar: aos 26’12’’, o Anderlecht fica reduzido a quatro após expulsão de Deivão, numa jogada que marcou emocionalmente o encontro. Na sequência, Edson desperdiça o penálti, mas a quebra belga já estava à vista. O capitão percebeu-o antes de todos: aos 32’13’’, Orazov voltou a fazer magia — leitura perfeita na zona central, receção orientada e finalização seca para o 3–1. Era o golo que mudou tudo. Era o golo que desmontou completamente o bloco adversário. Era o golo que separa equipas que querem passar, de equipas que sabem passar.
A partir daqui, abriu-se espaço para o Kairat acelerar nas transições e afundar o adversário nos seus erros. Aos 36’07’’, o guarda-redes João Paulo — numa ação de leitura digna de quem percebe o ritmo do jogo — colocou o 4–2 com um remate direto de baliza a baliza, num momento que aniquilou qualquer tentativa de crescimento do Anderlecht. E já dentro do minuto final, aos 39’47’’, Athirson Silva fechou o 5–3 após assistência de Caio Ruiz, garantindo o triunfo e colocando uma pedra final na esperança belga.
Pelo meio, houve espaço para duas notas inevitáveis: a qualidade ofensiva do Anderlecht, que ainda marcou por Edu (14’36’’), Gréllo (17’56’’, penálti) e Dillien (39’23’’, penálti), e a resistência emocional do Kairat, que nunca perdeu o eixo — mesmo quando sofreu, mesmo quando o jogo esteve dividido, mesmo quando o adversário mostrou vida.
No fim, a leitura é clara: o Kairat passa porque tem identidade, porque sabe sofrer, porque mata nos detalhes… e porque tem Orazov.
Figura da Partida — Orazov (Kairat Almaty)
Capitão, cérebro, pulmão e lâmina. Dois golos (22’10’’ e 32’13’’), liderança emocional em todos os momentos quentes, controle dos ritmos e uma capacidade absurda de definir onde o jogo precisava: pressionou quando tinha de pressionar, pausou quando o coletivo pedia pausa e assumiu cada duelo como se fosse o último. Foi a âncora, o metrónomo e o golpe final. A vitória passa por ele — e o jogo também.
O que significa este triunfo no caminho europeu
Com a passagem assegurada, o Kairat entra agora numa zona de tabuleiro onde cada detalhe pesa. A equipa já sabe quem pode encontrar nos quartos-de-final e entende que, nesta Champions, não há margem para relaxar um centímetro. O que mostrou hoje — identidade, controlo emocional, execução limpa e capacidade de decidir nos momentos quentes — é exatamente o que separa os que sonham dos que realmente chegam a maio. Esta exibição é um sinal forte: o Kairat está vivo, está pesado… e está a crescer no momento certo.