“A Fera” vai estrear-se pela canarinha aos… 36 anos
Quando questionados sobre quem é a melhor pivot da história do futsal feminino, se ouvirmos algo como Dany acaba por ser uma opção bastante credível entre outras tantas possíveis.
O mais estranho mesmo é que esta experiente pualistana de 36 anos, nascida a 13 de Julho de 1984 nunca teve uma oportunidade de brilhar ao serviço da canarinha, algo que salvo algo que leve ao adiamento do jogo ou a algum problema entretanto com a jogadora do Burela acontecerá já em Fevereiro.
Daniela Domingos Lopes começou a sua carreira futsalista no Clube Elite Itaquerense, passando depois por Mogi das Cruzes, São Caetano e Associação Sabesp antes de chegar ao Jaguaré/Osasco, clube onde acabou eternizada com a alcunha de “A Fera”, muito pelos 105 golos que fez em apenas um ano, juntando competições estaduais, nacionais e universitárias.
No Jaguaré mostrou-se ao mundo e acabou mesmo por rumar para Espanha onde representou o Valladolid onde apesar dos 43 golos em 34 jogos nem tudo correu como pretendia e procurou voltar ao Brasil para representar o Jaguaré, mas o clube espanhol exigia uma verba demasiado alta para a sua rescisão, algo que a fez regressar a Espanha mas para as campeãs em titulo na época do Deportivo Córdoba.
A ideia seria cumprir apenas uma temporada nesse conjunto e depois regressar ao Brasil, mas em ano de estreia no Córdoba fez 41 golos na Liga e conseguiu novo feito, foi a primeira brasileira a conquistar o “Pichichi”, prémio de melhor marcadora da Liga, e acabou por ficar mais um ano por Córdoba antes de se mudar para o Burela em 2012/13, onde em ano de estreia conquistou logo a Liga e a Copa, mas onde acabou por regressar ao Brasil passando novamente pelo São Caetano e depois pelo CA Taboão da Serra antes de regressar em definitivo a Espanha para representar novamente o Burela, clube onde cumpre a 6ª temporada consecutiva este ano, sétima no geral.
Atualmente com números mais baixos no que toca a golos marcados, é ainda assim uma peça bastante importante neste Burela que foi nomeado pela FutsalPlanet como melhor clube feminino no mundo, e que conquistou nada mais nada menos que os últimos 5 troféus nacionais disputados, sendo o ultimo deles a Supercopa realizada no inicio de 2021 onde Dany fez mesmo o segundo golo do Burela que deu mais tranquilidade à sua equipa num disputado encontro com o Poio Pescamar que venceram por 2-0.
Com tantos feitos o mais estranho é mesmo que Dany “a Fera”, nunca tenha visto todo o seu talento e todos estes números premiados com uma convocatória para a seleção antes dos 36 anos, idade com que se poderá então estrear na Canarinha.
A Zona Técnica esteve à conversa com Dany para perceber o que sentiu nesta chamada e os sonhos que ainda tem quando vê certamente o final da carreira cada vez mais próximo. Fique com a pequena entrevista, sendo que agradecemos desde já à jogadora pela disponibilidade mostrada:
ZT - Como surgiu o futsal na sua vida?
Dany – O futsal surgiu na minha vida desde os 5 anos, quando eu jogava na rua com meus irmãos, meus vizinhos e na escola.
ZT - Onde estava quando recebeu a notícia da convocatória para a seleção brasileira? O que sentiu no momento em que lhe disseram que estava convocada?
Dany – Estava com a minha família em casa brincando com o cachorro quando soube da notícia. Pensei que era uma brincadeira, mas quando vi o telefone vi que era verdade. Fiquei muito feliz e agradecida da convocação.
ZT - Chegas a Espanha por via do Valladolid, mas já com um bom historial no Brasil onde fizeste 105 golos em apenas uma época. Na altura sentiste que essa chamada à seleção era merecida?
Dany – Já levava muitos anos jogando bem e um jogador quando está em uma ótima fase espera o prêmio máximo, mas só o treinador da seleção que pode te convocar e então eu não tive essa sorte naquela época...
ZT - Também em Espanha chegou e começou desde logo a dar nas vistas sendo que em 2010/11 se tornou a primeira brasileira a ser a melhor marcadora do Campeonato Espanhol. O que sentiu nesse momento?
Dany – "Nunca é tarde para recomeçar ".
ZT - É previsível que uma vinda para a Europa dificulta a chamada a uma seleção, até pelos custos, algo que faz com que poucas jogadoras a competir em solo europeu acabem por ser selecionadas. Ainda assim, com mais de 200 golos nos 9 anos em Espanha, acha que peca por tardia a chamada?
Dany – É uma responsabilidade do selecionador e eu como jogadora tenho que seguir fazendo minha parte que é treinar bem para estar bem e para ajudar o meu clube a conquistar os campeonatos.
ZT - São então 9 anos em Espanha, com passagens por Valladolid, Córdoba e agora Burela. Sendo Espanha já quase uma segunda nação para si, esta estreia pela canarinha logo contra a seleção Espanhola traz um sentimento ainda mais especial?
Dany – Espanha é a minha segunda casa. Me tratam bem, estou em um dos melhores times da Espanha, jogo em uma cidade que respira futsal e em cima poder jogar um clássico como este? O sentimento é mais que especial.
ZT - Aos 36 anos é então convocada para a seleção, numa altura de pandemia Mundial mas que contrasta com um belo momento onde conquistou os últimos 5 troféus nacionais que disputou em Espanha e com esta convocatória. É a melhor fase da sua carreira em termos de conquistas?
Dany – Em Espanha sim, é a minha melhor fase de conquista.
Com o ano que estamos tendo por conta da pandemia e ainda assim poder fazer aquilo que gosto e amo, conquistar todos estes títulos, é para estar agradecida sempre.
ZT - Com a sua idade, e com todas as conquistas que já teve no mundo do futsal, esta convocatória para a canarinha era sem duvida um sonho que ainda lhe faltava realizar. Sempre sentiu que podia ser possível, ou já olhava para isso como uma miragem?
Dany – Sem dúvida é um dos sonhos conquistado que me faltava. Nunca sabe quando a oportunidade vai bater na sua porta, continue trabalhando sempre. A recompensa um dia vai chegar, cedo ou tarde, mas chegará.
ZT - Acha que o facto de ser convocada com mais três colegas de equipa do Burela poderá facilitar os vossos processos nesta seleção? Sente que essas 4 chamadas são um prémio não só para vós mas também para o Burela pelo trabalho que tem feito?
Dany – Ser convocada com mais companheiras do time é uma alegria, já te conhecem e na hora dos treinos te facilitam muito o trabalho para que as coisas saiam bem. O Burela é um grande time e investe muito em jogadoras de alto nível. Essa convocação é um premio também para o clube pelo excelente trabalho que tem feito nos últimos anos.
ZT - Por quantos mais anos podemos continuar a ver Dany a brilhar nas quadras? Ainda tem algum sonho que queira realizar antes de terminar a carreira?
Dany – Dany é uma jogadora que respira futsal, que vive disso, que se sente uma grande profissional.... enquanto tenha tudo isso no sangue seguirei jogando, mas Deus me dirá o momento de parar... pode ser ano que vem ou talvez mais alguns anos...eu deixo Ele guiar meu caminho.
Antes de terminar a minha carreira, meu sonho seria que o futsal fosse Olímpico e que eu pudesse participar ou poder jogar um mundial.
O duplo confronto entre Brasil e Espanha está marcado para os dias 9 e 10 de Fevereiro na Cidade do Futebol em Espanha, no Pavilhão “Las Rozas”, e Dany será sem duvida figura de destaque por esta conquista que apesar de tardia é um prémio mais que merecido de Saboia e Coelho para esta que é sem sombra de duvidas um dos grandes nomes da história do futsal feminino internacional.