Mário Freitas “Há coisas mais importantes que ganhar ou perder”

Falemos agora de valores e princípios no futsal. Entre a bonita festa
da passagem da AD Fundão às meias-finais da Liga SportZone, frente aos Leões de
Porto Salvo, houve um gesto que a embelezou ainda mais. O protagonista foi
Mário Freitas, atleta dos fundanenses que, quando a sua equipa perdia por 2-3, com
a partida já bastante adiantada, viu Bebé, guardião dos Leões, ser expulso depois
de a equipa de arbitragem ter considerado que este teria agarrado a bola com as
mãos fora da área. Pois bem, Mário Freitas, inserido no lance, tomou a atitude
de falar com o árbitro e este reverteu a decisão, depois do jogador explicar
que o seu adversário não teria cometido qualquer irregularidade.
A Zona Técnica chegou até ao atleta e conversou sobre este episódio e a necessidade de fair-play no desporto, além do seu comentário à passagem à fase seguinte do campeonato.
“Devia ser algo natural no desporto”
Zona Técnica: Não é comum o que aconteceu, um jogador evitar a expulsão de um adversário, mas o que sentiu nesse momento? Sobretudo numa fase tão decisiva do encontro?
Mário Freitas: Sinceramente não pensei no que estava a acontecer em relação ao resultado e ao tempo que faltava para o fim. Apenas pensei em confirmar que o Bebé não tinha tocado na bola fora de área, porque achei que era o mais correto e o que devia fazer naquele momento.
ZT: É uma situação que acaba por ficar para a história do futsal nacional...
MF: Sei que não é uma situação normal de acontecer. Quando o fiz e até ontem, o dia a seguir ao jogo, não fazia a mínima ideia da repercussão que iria ter. Já que aconteceu e é notícia, quando não o devia ser porque devia ser algo natural no desporto, que seja uma boa notícia e um bom exemplo. Principalmente para os mais jovens verem que no desporto há espaço para o fair-play, mesmo em alta competição.
ZT: Atitudes como a sua, que demonstram uma luta pela verdade desportiva, mais que o fair-play, ainda fazem muita falta ao futsal?
MF: Fazem falta, não só no futsal, mas sim no desporto em geral. Por vezes o foco está tão virado para resultados e em ganhar, que acaba por se querer a qualquer custo e esquecemos o porquê de gostarmos tanto do desporto, neste caso o futsal. Não pode ser assim, porque há coisas mais importantes que ganhar ou perder.
ZT: Como leu as palavras do Bebé, seu ex-companheiro, depois do sucedido?
MF: Fiquei surpreendido apenas na parte de ele o fazer daquela forma, nas redes sociais, mas não na parte de como ele se sentia em relação a mim e ao meu gesto. Sei de que forma como ele se sentiu “agradecido”, mas não o precisava de fazer, o meu sentimento seria o mesmo em relação ao que fiz.
“Temos a motivação no máximo”
ZT: Na negra, conseguiram marcar passagem para as meias-finais, a equipa está motivada?
MF: Muito motivada. Tivemos uns quartos-de-final muito duros e de muita qualidade frente a uma excelente equipa. Agora, temos a motivação no máximo. O Benfica é favorito, mas nós queremos contrariar esse mesmo favoritismo.
ZT: Segue-se o Benfica, o que esperar?
MF: Do Benfica não há muito a falar. Todos sabemos da muita qualidade que tem, mas também temos as nossas armas. Respeitamos o Benfica, mas somos ambiciosos e queremos sempre mais.