Beatriz Vieira: "Acredito sem dúvida alguma que chegou a hora da nossa Seleção Portuguesa vencer"

Continuando com as antevisões ao UEFA Women’s Futsal Euro, trazemos hoje o testemunho de Beatriz Vieira.

Beatriz Inês Ramos Vieira, com 21 anos completos já em 2019, foi sempre vista como uma das grandes promessas do futsal feminino, mostrando qualidade em todos os projetos por onde passou.

Benfica de Cadaval, Vilarense, Ereira e Benfica, SL Benfica e Novasemente foram os clubes por onde a jovem portuguesa passou.

Brilhou nas juniores do Benfica, e apesar de convidada a ficar, a jogadora acabou por ter que migrar para o norte para junto da sua família, uma vez que os seus pais tinham emigrado.

Já no Novasemente teve duas épocas completamente diferentes onde na primeira brilhou, algo que lhe valeu uma chamada à seleção nacional onde cumpriu duas internacionalizações, mas na segunda temporada por motivos de saúde nem sempre conseguiu ajudar a sua equipa.

Este ano, por motivos profissionais, Beatriz foi obrigada a emigrar e apesar do interesse demonstrado por alguns clubes de futebol da Alemanha, esta apenas se mostrou interessada em jogar futsal tendo assim recusado as propostas e provocado um terminar precoce da carreira.

Fique agora a saber um pouco mais sobre a jovem internacional bem como as espectativas de Beatriz Vieira (BV) para este primeiro Euro, nesta entrevista realizada pela Zona Técnica (ZT). Agradecemos desde já a disponibilidade para participar nesta antevisão ao Euro, e desejamos à Beatriz um bom futuro profissional, seja este ligado ou não ao futsal.

ZT - Era vista como uma das maiores promessas do futsal feminino nacional algo que lhe valeu duas chamadas à convocatória. Teve em tempos o sonho de jogar pela seleção? E de jogar uma competição oficial pela seleção como esta?

BV - Olhando para trás e recordando a minha infância, desde pequena que ambicionava chegar à seleção, aliás sonhava, era mais um sonho. Lembro-me perfeitamente de estar sentada no chão a apenas alguns metros da televisão e lembro-me de ver um jogo de futsal feminino, foi a primeira vez que tive contacto com essa realidade, na qual me apaixonei imediatamente e disse à minha mãe sentada ao pé de mim : “ Mãe, estás a ver , um dia eu vou estar ali “ e aquilo transformou-se rapidamente num sonho/objetivo até obsessão para aquela idade (6 anos apenas). Depois entrei para uma escolinha de futsal  e desde aí que todos me apontavam como algo “especial“ para a minha idade e pelo facto de ser uma menina e rapidamente em todas as equipas que integrei até o meu ingresso no Benfica assumi um pouco essa responsabilidade, o que fez com que começa-se a acreditar que podia chegar a outros patamares e consequentemente à seleção Nacional .

ZT - Algumas lesões fizeram com que a Beatriz não aparecesse tanto nos últimos anos, e esta época deixou mesmo de jogar por motivos profissionais. A seu ver, o futsal fica a dever-lhe algo?

BV - Sim, algumas lesões e motivos de saúde levaram a que o meu rendimento fosse baixando gradualmente. Depois de já ter algumas propostas e de as estar a analisar surgiu uma hipótese de emigrar com excelentes condições que eu dificilmente alguma vez irei encontrar em Portugal e também com a possibilidade de estar mais junto da minha família que se encontra também na Alemanha, após refletir bastante e conversar com as pessoas que me são importantes e que têm uma grande influência na minha vida decidi um pouco mais racionalmente deixando de lado o coração e optei por deixar o futsal e lutar por um futuro em termos de estabilidade económica e profissional melhor. A meu ver sou eu que fico a dever algo ao futsal e não o contrário sei e tenho noção que tinha e podia dar muito mais do que aquilo que dei.

ZT - Teve um fim de carreira muito precoce, pensa um dia mais tarde voltar ao futsal de alguma forma?

BV - Recentemente e graças ao Novasemente GD, descobri algo que me apaixonou tanto como o jogo em si que foi o treino de formação. Deu-me um gozo brutal treinar miúdos, descobrir todos os dias talento e ajudar a formá-los desportivamente e pessoalmente, foi algo em que dei tudo de mim e em que deixei muitas amizades com pais e uma ligação incrível com os miúdos.

Em termos de “eu” como jogadora, dificilmente voltarei a jogar, não vou dizer nunca mas será muito difícil, mas pretendo ter alguns projetos relacionados com a formação aqui na Alemanha.

ZT - Conhecendo a forma de trabalhar desta seleção, quais sãos os pontos que mais destaca desta seleção? O que acha que as pode ajudar a chegar à glória?

BV - É uma seleção muito experiente, habituada a jogos de alto nível e que por ser uma seleção com uma mistura de juventude e experiência pode conjugar o facto de ter já os processos extremamente bem assimilados com a irreverência que as jogadoras mais novas podem trazer.

O que pode ajudar a seleção a chegar à glória será a união, a união das individualidades de cada uma, visto que são todas jogadoras de um talento e capacidade excecional. Se conseguirem unir essas individualidades e transformá-las em uma só em prol de uma equipa, a equipa de todos nós, então será muito difícil alguém nos vencer.

ZT - Falando agora das nossas internacionais a nível individual, quais as jogadoras que mais destaca das habituais convocadas? Considera que existe alguma jogadora chave na nossa seleção?

BV - Penso que temos um conjunto de grandes jogadoras e todas elas podem ser jogadoras importantes, mas a destacar , destaco obviamente a Ana Catarina, melhor guarda-redes do mundo, que dá uma segurança enorme à equipa , destaco a Inês Fernandes , uma das jogadoras que por entender  o jogo melhor que ninguém poderá fazer a diferença , mas também poderia destacar a Fifó que está num grande momento e muitas mais que estão numa notável forma. Acho que temos muito talento que nos poderá levar à glória.

ZT - Olhando para as duas meias-finais, que seleções espera ver na final? E nessa sua final, quem deverá vencer?

BV - As seleções que eu espero ver na final serão sem dúvida a Seleção Nacional Portuguesa que tem todas as condições para lá chegar e a seleção Espanhola que embora tenha um embate complicado contra a seleção Russa penso que terá mais argumentos para seguir em frente. Na final será uma final equilibrada, em que o mais pequeno detalhe irá ser decisivo, espero e acredito sem dúvida alguma que chegou a hora da nossa Seleção Portuguesa vencer.

ZT - Quer deixar uma mensagem às jogadoras que vão disputar este Euro?

BV - Que desfrutem da competição, que sejam felizes a jogar futsal e que demonstrem dentro de campo o quanto o futsal feminino português cresceu e todas as qualidades que todos nós portugueses sabemos que elas têm. Que acreditem na capacidade enorme que têm e que vão com tudo na busca daquilo que merecem e que no fim tragam o caneco para Portugal.

ZT - E aos que sempre a seguiram e apoiaram, quer também deixar uma mensagem final?
BV - Quero agradecer imenso a todas as pessoas que seguiram o meu percurso no futsal e a todas as pessoas que ainda me continuam a questionar sobre o porque de não estar a competir. É com bastante tristeza que deixo aquela que foi a minha vida durante 15 anos dos 21 que tenho, mas por vezes temos de pensar mais à frente e seguir algo que no futuro poderá ser mais benéfico para nós, mesmo que isso inclua deixar coisas que amamos para trás. Sempre que tomamos decisões inevitavelmente deixamos algo para trás. E o futsal infelizmente para mim chegou ao fim, pelo menos por agora. O meu muito obrigado a todos os que me acompanharam, que me formaram, a todos os clubes pelos quais passei e a todas as pessoas com as quais eu convivi e das quais levo sem dúvida muitas coisas boas.